terça-feira, 10 de agosto de 2010

Extra lives

Tom Bissel, escritor de literatura de viagens e jornalista interessado em política, resolveu abordar os jogos de vídeo no livro WHY VIDEO GAMES MATTER. 

Extremamente curioso este título, dado que grande parte dos jogos que Bissel expõe para justificar a premissa do livro não poderem ser menos importantes: Gears of War (1&2), GTA4 (o melhor jogo que Bissel alguma vez jogou, acompanhado de doses generosas de cocaína), Far Cry 2, LEFT4DEAD, Call of Duty 4... Lá pelo meio são referidos, por obrigatoriedade, o Resident Evil original, Braid e uns quantos títulos indie favoritos da critica - e por esta enumeração já se percebe que jogos e arte não são o forte de Bissel. 

Não sei se o facto de Bissel apenas jogar consolas contribui para a sua vesga perspectiva sobre o potencial poder narrativo e emocional dos jogos, mas é inquietante pensar que este livro é considerado uma obra necessária na avaliação dos jogos como forma de arte e que é recomendado em revistas sobre livros. Aliás, foi através de um podcast do New York Times sobre literatura que resolvi lê-lo.

Um livro desalentador, supérfluo, desinformado e com uma perspectiva completamente hollywoodesca sobre este tipo de "entretenimento". O detalhe com que Bissel descreve a maior das banalidades mecânicas num qualquer blockbuster de acção é inacreditavelmente risível. Espero, com franqueza, que Bissel continue vidrado a fragar amigos na rede XBOX Live e que ninguém o leve muito a sério.

1 comentário:

  1. Mas será que Bissel é o problema? A questão é que o que ele escreve tem automaticamente eco no meio. O livro dele não será ignorado, criticado ou vilipendiado por ninguém. Pelo contrário, erguem-se já as vozes de concordância e virá de seguida o elogio do visionarismo. É natural que, o NYTimes vendo que a opinião é respeitada, e vindo de alguém com 'ethos' e expectável distanciação, ache que deve promover o livro que faz a tão aguardada 'análise crítica' dos videojogos enquanto meio artístico. Afinal, falamos de um artefacto cultural que é ubíquo na sociedade.

    Essa descrição verborreica da actividade videolúdica de que falas, citando blockbusters como se de referências progressistas se tratassem, faz parte do zeitgeist do meio: está inerente à cultura dos jogadores, dos jornalistas, dos cientistas e dos criadores. Não é difícil de perceber como ela rapidamente infecta quem vem de fora - não conhecendo aprofundadamente o meio, essa teia de concepções superficiais e de pseudo-análise estabelece axiomas cujo corolário dá neste tipo de exercícios. A expectativa de uma base de análise crítica sólida com raiz no meio, por paralelismo com outros media, gera necessariamente um balão de ingenuidade para quem começa a escrever sobre videojogos: por que há-de Bissel contrariar os dogmas instalados? Tanta gente séria no meio, de qualidades intelectuais inegáveis, estará errada? É mais fácil acreditar que não está. Toda esta ideologia e racionalização por detrás de aspectos negativos que governam os videojogos, não poderá ser desmistificada por quem acabou de chegar à festa e tem pouco conhecimento de causa. Quantos jogos jogou Bissel? Meia dúzia? O que teve ele que ler para ter um contexto sólido para servir de apoio à análise dessa meia dúzia? E quem escreveu essa base analítica?

    E claro, nem falar do interesse económico: um livro cujo autor tentasse uma análise séria e desprendida do meio, seria sempre um fracasso de vendas. Seria ostracizado como sendo arrogante, pessimista, excessivamente crítico. Como nós, no fundo!

    Abraço!

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