sábado, 5 de fevereiro de 2011

Nier


É irónico pensar que a série Legend of Zelda, petrificada pelo indistinto e entediante Twilight Princess, e da qual já não se espera nada de novo, continue a servir de inspiração para tantos jogos recentes.

Apesar de Myamoto e companhia não estarem preocupados em trazer Link para o mundo dos crescidos, e assim acompanhar os jogadores trintões e quarentões que o descobriram há mais de 20 anos, parece haver várias equipas interessadas em repescar o modelo e criar variantes. Jogue-se, por exemplo, a imensidão negra e terrorífica da obra-prima Demon’s Souls para perceber que, bem vistas as coisas, está mais próximo das raízes de Zelda do que qualquer outro RPG de ação dos últimos tempos.

Nier entra no mesmo grupo. Excêntrico, humorístico e autorreferente, não perde a oportunidade de piscar o olho a Ocarina of Time, Chrono Trigger, Resident Evil, Bayonetta, Asteroids, Zork e Ico tão rapidamente, e com tantos movimentos de câmara, que alguns o acusarão de esquizofrénico e desesperado.

Na pequena odisseia em que o protagonista Nier procura apenas tomar conta da sua filha (um leitmotiv simples e empolgante muitas vezes mais sedutor do que as mais explosivas batalhas pelo universo), o jogador assistirá a tantos géneros misturados e a tanta metalinguagem que dificilmente permanecerá indiferente.


No entanto, esta desejada variedade é limitada por um design de níveis pouco inspirado, combates monocórdicos e dezenas de “quests” já vistas e feitas. A paleta de cores desfalecidas não ajuda, e entre os inúmeros empurrões de blocos em puzzles com planos picados e os intermináveis assaltos de tropas de inimigos sobressaem com facilidade os combates com os "patrões" das masmorras. Divertidos e inteligentes, estes encontros apresentam uma qualidade de ação que não existe no resto do jogo. 

A envolver a exploração e a utilização de vários feitiços e armas, e palavras de dicionário que temos de colecionar para aumentar o nível do protagonista (longa história), está a melódica e graciosa música que peca apenas pela sua duplicação ad aeternum: os compassos das canções repetem-se pelas áreas com adições ou subtrações de um instrumento ou voz, sempre dentro do tempo - um efeito elegante que devia ser utilizado em mais títulos, mas com mais moderação do que aqui.

Longo e desfocado, Nier é salvo pelas suas personagens e respetivos diálogos; e principalmente por um acompanhante flutuante cujo cinismo literato faz lembrar Morte de Planescape: Torment. A boa direção de atores dá vida à relação afetiva entre o protagonista e o resto da sua equipa, e é garantido que o final acertadamente lamechas comoverá sem grandes problemas.

Mesmo que nos sintamos perdidos no meio das reviravoltas narrativas e na paródia da jogabilidade, a âncora de Nier reside nas pessoas que retrata – e isso nunca deve ser descartado.

3.5/5

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